sábado, 3 de setembro de 2011

Elephant Man


The Elephant Man/ O Homem Elefante

 David Lynch, 1980


David Lynch apresenta-nos uma cidade de Londres que vive a preto e branco num grotesco final do século XIX envolto em nevoeiro, sombras e vazamentos de esgoto. Uma risada de circo de variedades anuncia a atracção principal dos «Frutos do pecado original». Entre a mulher barbada, o chinês que sangra pelos dedos, as irmãs siamesas e o grupo de anões corcundas, o povo pede mais deformidades, mais aberrações. Pede que as cortinas se abram e surjam os 21 anos sofredores de bronquite crónica, o cérebro defeituoso, o braço direito morto e o corpo mal cheiroso 90% coberto de tumores rugosos agarrado a John Merrick (John Hurt). Nome de circo: o terrível homem elefante. O espasmo de horror de quem olha e fica satisfeito com o espectáculo apresenta então o abominável ser que ao quarto mês de gestação, quando a mãe é esmagada por um elefante, já não era bebé, mas monstro.

No meio dos animais que julgam estar a ver a besta, o cirurgião Frederick Treves (Anthony Hopkins) ganha interesse pelo fenómeno humano a quem tratam como animal e consegue levá-lo para o London Hospital. Do tão feio ser que todos julgavam um débil mental, surgem então sinais de uma sensibilidade extrema. De uma inteligência tímida, porque pura, incompreendida. E à medida que a auto-estima cresce em Merrick, cresce também o interesse da aristocracia inglesa em sair nas páginas dos jornais ao lado da ‘coisa’ que tem aspecto de elefante e que todos querem comentar.


De objecto bizarro de circo, Merrick passa a objecto do voyerismo cruel dos que pagam por uma foto mais ‘exótica’, passa a objecto da elite, que por engano dá a conhecer a bondade da actriz interpretada por Anne Bancroft, que esquecendo o seu aspecto medonho o acha um belo Romeu, um artista, um poeta.


O fato de gente que agora também usa esconde as deformidades de John Merrick, que só queria alguma vez «poder dormir como as pessoas normais»e não curvadamente enrugado com um feto para equilibrar os seus tumores cerebrais em forma de bola. Os dias vão passando ao sabor do Salmo 23 da Bíblia entranhada que tanto lembra a Merrick que o Senhor é o bom pastor e que nada lhe faltará.

Em maquete vai sendo construída pela única e mágica mão que John Merrick tem a catedral de Saint Philip que lhe entra pela janela de quarto de hospital adentro. Todos os dias a crueldade do espelho cospe na cara deformada de Merrick que não há lugar para os corações bons em corpos feios. O zoo do mundo não tem lugar para o elefante mais parecido com o homem naturalmente bom a quem Rousseau chamou de Bom selvagem.

Por isso, no dia em que a reprodução da catedral em papelão fica pronta, é finalmente o dia de John Merrick dormir como a outra gente, deitado, de cabeça encostada ao travesseiro, com a expressão de uma criança que não espera beijo de boa noite nenhum pois não tem família que o queira.

Enquanto isso, lá fora, o céu estrelado brilha e pergunta em pontos de luz a quem viu o filme que Direito é esse de assassinar com a desculpa da beleza, fazendo morrer com a sentença dos olhos da maioria.

    Isso é escroto puro que seja verdade,como pode ter pessoas assim?Isso que todos querem responder,mas não conseguim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário